sexta-feira, 31 de outubro de 2014

queridos tarados do trânsito,

Primeiro que querido é o caralho. Seus filhos de rata, nenhuma mulher é obrigada a tolerar as barbaridades que vocês cometem no trânsito. Antes de tudo, vou esclarecer o conceito de paquera: consiste em um contrato de flerte entre as partes. O que foge a essas linhas, é pertubação de juízo e/ou violência.

Portanto, se você olha para mim e eu viro a cara, você foi ignorado. Mas trocarmos olhares e, porventura, eu sorrir, estamos paquerando. Serve para as duas partes.

Agora, se eu ignoro, fecho o vidro, acelero é porque você já passou da medida. Se você me seguir, me trancar, fizer gestos horrorosos é porque você não passa de um doente com transtorno sexual. Amigo, isso é violência. 

Na última terça-feira, você que me seguiu ali perto da barragem do Itaqui-Bacanga e não contava que 1) eu soubesse dirigir bem, 2) estivesse atenta, 3) tivesse um carro da polícia na nossa frente, se deu um pouco mal. E sabe o que eu achei? Pouco.

Quando receber, não precisa avisar.

Espero que você morra mesmo.
Carolina.



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

querido companheiro de apartamento,

Eu desisti de tentar mudar você! Lá no comecinho, quando eu disse que ia entrar de dieta, eu até te avisei com carinho que não precisava mais trazer leite condensado para os meus dias de TPM.

Depois, quando eu já estava na dieta, tentando me libertar do meu vício por doces, você começou a descobrir novas modalidades de trufas e trazer para casa. Muitas vezes, reclamei e pedi que você não trouxesse mais cones, mas você sempre presumia que, pelo fato deu ter comido os que estavam na geladeira, era preciso repôr o estoque.

Depois de muito lutar e resistir, eu decidi te aceitar e admitir: você é realmente o melhor amigo para se dividir um apartamento! Obrigado pelas trufas, pelas dindas, pelos brigadeiros e beijinhos. E, hoje especialmente, obrigada pela coxinha de brigadeiro.

Quando receber, me avisa, mas não precisa aumentar a encomenda de cones.

Abraços,
Seane.




terça-feira, 28 de outubro de 2014

querido tatu,

Você é um bichinho tão bonitinho (não ligue para o que dizem por aí) e tem uma cara de gente boa, que eu tenho até vergonha de usar o seu nome para apelidar umas pessoas desagradáveis que têm cruzado o meu caminho.

Sabe o que me faz sentir ainda pior? Tenho usado o seu nome em vão! Você nem é o bicho original que dá nome a estes seres... O seu nome só surgiu por causa da minha mania brasileira de diminuir nomes e acabar criando um apelido para o apelido. O bicho original? Taturana.

Não tenho nada contra você, só contra os apelidados. Tenho me esforçado pra achar outro apelido (até porque "tatu" fica demasiado fofinho pros seres em questão), mas o seu nome é tão curtinho e sonoro que tem sido difícil me desfazer do apego e pensar em outra opção.

Não me leve a mal, continuo te achando uma graça.

Quando receber, me avisa.

Beijinhos,
Mari.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

querido silêncio,

O que você fez de mal às pessoas para elas fugirem tanto de você?

Quer dizer, qual o mal em ficar calado? Ou em apreciar a falta de conversa, música, zuada de onde quer que seja?

Acho que as pessoas perderam a capacidade de perceber o quanto você é legal. Elas não param só para escutar o outro e as coisas em volta, sem intervir. Não conseguem assistir a uma discussão e não necessariamente abrir a boca. Nem entrar numa rede social sem sentir a desesperada necessidade de compartilhar uma opinião sobre o assunto que todo mundo está comentando (está aí a tenebrosa época de eleições que acabou ontem como exemplo).

E o silêncio da natureza?! Aquela coisa de sentir insignificante ante a imensidão da natureza e das grandes paisagens e apenas curtir o barulho do mar, do vento, do mundo girando enquanto se fica ali parado?! Não rola tanto mais, pelo visto.

Elas te acham desconfortável, sabe. Acham constrangedor simplesmente estar ao lado de alguém, seja tomando uma cerveja no bar ou retomando o fôlego depois do sexo, e não falar nada, só apreciar o prazer da presença da outra pessoa.

Uma lástima isso.

Fora que você ficar quietinho no seu canto não ajuda muito, né.

Mas precisamos de você. Resista ao desprezo e, quando receber, me avisa.


Beijo,

Bel 







domingo, 26 de outubro de 2014

querida Sessão 42,

Quatro anos depois e não te reconheço! Antes chegava e votava em menos de 2 minutos. Votava que nem sentia!

Mas no 1º turno de 2014 o lugar já não era o mesmo, nem o tamanho da fila e nem as pessoas que nela estavam. Todos que pediram transferência para o colégio eleitoral foram parar na última sessão e, junto com eles, todos que têm prioridade na hora da votação. 

Tudo bem até aí, era muita gente, todos esperando para exercer seu direito ou cumprir com a obrigação. Mas ter que esperar duas horas e meia para votar foi sofrido! 

2º turno confirmado, esperança de que seria impossível demorar tanto para votar em um candidato só com dois números, por favor!

Porém a urna, o ponto biométrico e os mesários tornaram tudo uma zona de verdade.

Depois de uma hora de fila e muita reclamação daqueles, inclusive eu, que já tinham perdido tempo suficiente para votar nas próximas eleições até 2028, decidiram trocar a urna eletrônica. Mas esqueceram o ponto biométrico. E os mesários para dar essa dica, onde estavam?!

Enfim, a sessão 42 já foi amor, agora é ódio. 

Espero que daqui a 4 anos os organizadores da festa da democracia se concentrem mais no staff da festa do que na montagem do palco.


Quando receber, me avisa e toma providências! 

Abraços,
Samira.
















Samira Lopes é Relações Públicas, uma das mentes pensantes do Programa de Humanização do Hospital Universitário da UFMA e uma eleitora bem exigente.  



quarta-feira, 22 de outubro de 2014

querida Vida,

Você é muito surpreendente, sabe? Há 25 anos te conheço, mas ainda me pego estarrecida com tudo o que pode acontecer em você. Lembro de já ter passado um bom tempo, imaginando porque a gente tinha se encontrado, porque  você estava comigo e o que isso me dizia sobre as minhas responsabilidades nesse mundo.

Teve épocas em que eu fiquei, não exatamente com raiva, mas desapontada por você ter colocado no meu caminho pessoas que me desapontaram ou que não puderam ficar mais. Mas, recentemente, eu tenho sentido uma coisa bem diferente. Não que antes eu não fosse grata por ter você, mas, agora, dei pra achar bonito isso de você sempre se renovar, sempre trazer novos projetos e sempre colocar novas perspectivas na nossa frente.

O objetivo dessa carta é te agradecer. Não sei exatamente pelo quê, por isso, arrisco dizer que é por me dar a oportunidade de construir essa identidade do que eu sou. Obrigada por estar comigo, por ser sem graça (mas nem sempre) e por sempre ter sido relativamente fácil, rs.

Quando receber, me avisa, mas não precisa se empolgar e bolar reviravoltas que assim já está muito bom.

Abraços,
Seane.


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

querida ansiedade,

Há muito tempo não sentia a tua presença. Estava tudo muito ótimo até que, hoje, você apareceu colocando minhas pernas para tremer, minhas unhas a acabar, exilando minha concentração profunda.

Espero sobreviver a essa sua passagem. Depois das cinco, te darei tchau. Como te conheço bem, sei que tu voltas em novembro, mas espero te dar adeus no fim do próximo mês, quando a serenidade chegar relaxando os meus ombros.

Cordialmente, 
Carolina.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

querida casa nova,

Antes tarde do que nunca, meu Deus do céu!

 Já estava pra surtar tendo que lidar com eleições, agência, planejamento das férias e, de quebra, essa mudança que nunca acontecia. Antes de tudo, achar um lugar que tivesse o preço, a localização, as características e que ainda agradasse a todas as moradoras foi uma tarefa nada menos que EXAUSTIVA.

Mas, depois de uma longa turnê pelas imobiliárias, encontrei a casa que queria mais perto do que imaginava! E aí eis que a burocracia era longa como o purgatório. Passada essa fase, a mudança em si foi outra maratona de caixas, limpezas e itens quebrados.

Mas acabooooou! Agora tenho a cozinha que eu queria pra cozinhar tudo que me der na telha, o quarto com espaço pra todos os meus bagulhos e um quintal com uma mangueira giga que faz inveja na vizinhança inteira!

Que esse ano que passaremos juntas seja lindo (sim, um ano, porque depois disso vou pro meu próprio canto, comprado por mim, mas você será uma bela inspiração e ensaio, viu?).

Fique com as janelas abertas e, quando receber, me avisa.

Beijos

Bel 



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

querida São Luís,

Por que você está nos maltratando tanto? Tudo bem, eu sei que você vai argumentar que não é você, mas as pessoas que moram aí e, principalmente (?), as pessoas que te governam, mas de qualquer forma, queria dedicar essa carta para você.

Hoje é sexta-feira e ainda agora estou contando para os amigos distantes que, na segunda-feira, dois amigos e mais um conhecido foram esfaqueados ao voltar de uma festa! Ainda agora tento falar disso sem parecer muito chocada e desesperada, sabe. Ainda agora tento pensar apenas que Alexandre e Kelvin estão bem.

Eu sei que você vai tentar me explicar o que aconteceu e todas as circunstâncias, mas, cá entre nós, a gente sabe que não tem explicação. Assim como não tem explicação para, menos de um mês atrás, o pai do meu colega de apto ter sido baleado!

São Luís, tenho que confessar: eu estou com medo. Estou com medo pelos meus pais e amigos que estão aí. E, mais ainda, estou com medo de associar toda essa violência injustificável à imagem amada que eu tinha de você.

Não deixa a gente se conformar com isso! Não deixa isso continuar! Por favor!

Quando receber, me avisa.

Meus pêsames,

Seane.


domingo, 5 de outubro de 2014

querido colaborador da NET,

Ao qualificar como “inacreditável” sua oferta de conexão mais rápida, provavelmente o senhor já havia procurado conter minhas expectativas sobre o serviço que é obrigado a oferecer.

Sei que o senhor não tem opção ao tentar vender serviços cuja qualidade não dependem das (nem são garantidas pelas) suas palavras. Talvez se o senhor pudesse escolher como empregar seu tempo e sua lábia, poderia dedicar seu talento para convencer seus interlocutores de verdades mais importantes – como o fato de que a distância entre a realidade e as promessas é tão grande quanto os 0s e os 1s binários que aguardam sua saída ou chegada no meu roteador. Mas talvez verdades assim não rendam tanto quanto propagandas de conexão; porque, afinal, queremos acreditar que é possível conectar-se aos outros como o senhor acessou meus instintos de confiança infantil e crédulo otimismo.

Essa carta ainda aguarda o retorno da conexão para ser enviada, mas já cumpre o mesmo efeito tranquilizador (e a mesma ineficiência) de um ataque enfurecido pelo telefone contra quem não é culpado de nada além das limitadas possibilidades de trabalho para seu talento em ouvir ofensas sem reagir fora do roteiro de respostas programadas.

Quando receber, me avisa por sinal de fumaça, ou pombo correio.

Ivan.










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Ivan Paganotti é jornalista, professor, doutorando em ciências da comunicação na USP e autor do blog 8 frases.