domingo, 14 de setembro de 2014

querida quina da parede,

Preciso dizer que os nossos encontros não vão nada bem. Não me leve a mal, gosto de sua presença e acho mesmo super importante que a gente tenha uma parceria. Eu a mantenho sempre limpa, você me ajuda a dividir os cômodos da casa e acho justo que a gente troque umas ideias. Me divirto com o seu ponto de vista mais parado, enquanto eu falo mais do movimento, do ir e vir, dessas coisas de sair em busca do que queremos. Acredito que, no fim das contas, são as diferenças que nos mantém mais próximas. 

O problema mesmo são os encontros mais efusivos, entende? Estes são doloridos demais para mim. Sabe o mindinho, aquele do dedão do pé? No último esbarrão que tivemos, quase não se recupera – ficou meio assim de lado, como quem não quer mais voltar à brodagem e parceria dos outros quatro amigos. E você sabe como isso me magoa e, principalmente, como isso dói: e esta dor, para ser bem curada, só depois do terceiro ou quarto palavrão. E aí você se chateia, acha que é pessoal. Eu perco a paciência, nos desentendemos e acaba ficando ruim para nós duas. 

Queria que você entendesse que não é pessoal. Quando acontece a mesma coisa com as quinas dos móveis e do balcão, eu reajo do mesmo jeito; talvez eu não seja muito boa com quinas de maneira geral e, ao mesmo tempo, possuo uma indecifrável capacidade de encontrar vocês, assim, de supetão, seja onde estiverem.  Enfim, é isso. Todo relacionamento precisa de ajustes, não é? Espero que você esteja disposta a entender o meu lado. Fica bem, juízo por aí. O mindinho tá aqui, ainda magoado, mas desejando que as coisas se resolvam.

Quando receber, me avisa.

Cândida.











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Cândida Nobre tem tantos apelidos que seria impossível listar todos. É viciada em pipoca, usa filmes como desculpa para comer baldes e baldes sempre que pode e acaba gostando de alguns deles. 

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