domingo, 6 de julho de 2014

querida Petrolina,

Estou farto de sua distância. Sou desses de sentir saudade, de cantar a segunda voz das músicas de Sandy & Júnior quando tocam por aí mesmo em pleno 2014 e sou de touro (traços obrigatório de sensibilidade no ser humano, só pra você sentir que minha saudade é daquelas bem sofridas), e, portanto, não há condições de você estar a oito anos de distância. 

São uns 900 km de carro, mas que se resolvem com um dramin ou boas músicas. A ida por avião é mais fácil ainda de se resolver porque dá nem uma hora de voo, o que me permite esnobar qualquer lanche medíocre que a Gol tenha a oferecer, já que vou me reconfortar na comida de minha mãe logo. Claro, não posso esquecer o ônibus João Pessoa – Recife que,sim, é um tanto incômodo. Não custava um voozinho direto. Não, tem que sair horas antes com medo de protesto do MST na BR, guardar dinheiro na meia com medo de assalto etc. pra pegar esse voo. Mas, novamente, supera-se. Sabe, Petrolina, são esses oito anos que não consigo superar. Eles me incomodam tanto que você nem sabe, porque fico sofrendo aqui de João Pessoa.

Nos primeiros anos até achei que nada iria mudar entre nós, já que os amigos continuavam ali, os lugares pareciam os mesmos.Vou te contar: foi difícil ver gente estranha na casa que eu cresci, viu? Foi a parte mais estranha, na verdade. Ver também a moça que trabalhava na casa de minha vó continuar trabalhando lá, só que para outra família foi igualmente estranho. Fiquei achando que ela era tipo aqueles gatos que não saem enquanto houver comida, sendo que na verdade era um tiquinho de inveja porque ela podia entrar e sair da antiga casa da minha vó a hora que bem entendesse, enquanto eu deveria me contentar com uma fresta no portão para bisbilhotar e ver se não tinham alterado nada lá dentro. 

Só que mudaram. Mudaram tudo. Esse ano mudaram a fachada de minha casa antiga também, vi até um armário de quando eu era bebê no lixo da casa. E umas amigas muito próximas grávidas e que nem moram mais aí. De você mesma, Petrolina, restam memórias fragmentadas pelo mundo todo: melhores amigos que moram cada um em cada cidade, grupos zumbis no Whatsapp e fotos no Orkut – que já anunciou seu próprio fim num e-mail que recebi essa semana.

Bom, não tem condições dessa distância de oito anos. Então pare de reclamar dos que foram e nunca mais voltaram. Talvez seja mais fácil assim.

Quando receber, me avisa

Alan












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Alan Manga é professor e pesquisador, Petrolina e Juazeiro.

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