segunda-feira, 7 de abril de 2014

querido Ivo,

Primeiro de tudo: morro e vivo de saudades de ti. Nesse mês, são dez anos sem você, mas não consigo lembrar de todas as tuas histórias sem rir, lógico, e no fim da gargalhada, no suspiro de reflexão, fica o nó na garganta, os olhos suados, a sensação de que a vida poderia ter te dado mais 10, mais 20, mais 80 anos. 

Hoje você teria 35. Durante toda a minha infância o teu aniversário, 5 de janeiro, foi uma espécie de marco. "Ah, o Ivo é o primeiro aniversário do ano". Não sei explicar como surgiu. Coisa de criança, talvez. Foi nesse dia que nos mudamos para nossa casa atual, mas sempre será lembrado como aniversário do Ivo. Você só comemorou 25. Três deles, bem carequinha, mas ainda forte. E bonitão também, como você sempre foi. Os olhos e cabelos "castanhos do resto da tinta", como você, o caçula, costumava brincar. 

Ano passado fui a Belém e revi a Paula. Ela está casada e tem uma filhinha. Fiquei até constrangida porque a mãe dela só falava de você, na tua bondade, no teu senso de justiça, nas tuas piadas. Ouvi as histórias envolvendo o teu chulé umas dez vezes. Ninguém é perfeito, né? Nossa, foram três dias lá com o coração apertado de saudade. 

Dos irmãos do meu pai, você foi o melhor tio. Da saudade que sinto, hoje em dia, tem muito mais amor do que um sentimento de injustiça que eu tinha até um tempo atrás. Você teve a oportunidade do transplante de medula, mas deus te achou um cara muito legal e resolveu te levar pro time dele. Certo ele. 

Semana passada, quando atualizei meus dados no Redome, lembrei de quando cheguei com os olhos marejados no Hemomar e a senhora que foi coletar meu sangue perguntou se eu tinha esse pavor todo de agulha. Tem uns sete anos que fiz o cadastro, até hoje ninguém na fila foi compatível com minha medula. Se um dia acontecer, saiba que ajudarei porque te amo e porque quero que outras pessoas tenham a oportunidade que você teve. 

Fiz questão de escrever essa carta ouvindo aquele cd do Skank que tem Jackie Tequila. Passei anos odiando essa banda porque teve aquela vez que viajamos 400 km ouvindo a mesma música. Meu deus, como você gostava de repetições! Hoje, se eu pudesse, andaria com você por 800 km cantando a mesma música sem parar. Seria bom repetir algumas coisas, mas como elas não podem se repetir, as lembranças ficam guardadinhas no coração.

Quando receber, me avisa.

Com muito, muito amor,
Carol.


Um comentário:

  1. Que coisa linda, Baru! O tio Ivo e você são o tipo de pessoas pelas quais se ouviria a mesma música por 800 km!

    ResponderExcluir