quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

querida Sté,

Resolvi não te mandar esta carta pra dizer que tenho saudades, porque eu já te disse isso, bem baixinho, naquele domingo, dia em que vi teu rosto sereno pela última vez e o arco-íris apareceu.
Prefiro escrever o que talvez tenha dito pouco ou muito sutilmente: a gente aprendeu muito uma com a outra. Eu aprendi demais.

Acho que o fato de sermos tão diferentes ajudou bastante, sabe. Era muito mais do que tu ser a loira sorridente e simpática e eu a morena séria. Eram gênios. Temperamentos. Jeitos de encarar a vida mesmo.
Se às vezes eu te achava emotiva demais, tu te incomodava com meu excesso de objetividade. Se tu achava que eu reclamava demais do cliente, eu te achava agoniada demais em entregar o job. Se tu ia linda, uma boneca, pro trabalho, eu ia de mendiga mesmo e sempre te escutava dizer que eu podia ter colocado aquela blusa lá, ou aquele cinto, ou ter colocado um saltinho. Se eu pensava cem vezes antes de gastar dinheiro com aquela festa que nem parecia ser lá essas coisas, em meia hora tu decidia que ia, arrumava ingresso e tentava me convencer de ir junto.

Mas foi justamente por conta de toda essa diferença que a gente aprendeu tanto. Tu já encarava o trabalho de outro jeito, já tentava lombrar menos com algumas pessoas (especialmente aquelas que te faziam chorar e me davam vontade de matá-las por isso), já via que nem sempre dava pra agradar todo mundo.
Já eu, só pra citar algumas coisas: muitos dos meus vestidos deviam te agradecer só de estarem lá em casa (muitas das bijus também); se hoje me arrisco mais, se me emociono mais, se demoro um pouco mais pra ligar o foda-se pro mundo, devo ao que aprendi contigo; a conversa que tivemos naquela dita sexta-feira, sobre a Mahikari e sobre como a raiva que sentimos dos outros normalmente são reflexos de não gostamos em nós mesmos, reverbera em mim até hoje e talvez tenha sido mesmo o dia em que mais aprendi.

Apesar de tu sempre ter dito que eu tinha cara/jeito/potencial pra professora, foi tu quem me ensinou mais. E ainda vai ensinar por muito tempo, toda vez que eu pensar em ti.

Fica em paz, minha amiga, meu mais novo anjo da aguarda. E, quando receber, me avisa.

Beijo,
Bel




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