quarta-feira, 9 de setembro de 2015

querido processo seletivo,

Neste envelope estão contidas minhas últimas gotas de tinta da impressora, o resto do papel que estava na gaveta, os grampos que eu achei numa caixa no quartinho de bagulhos, um pouco da poeira trazida pelo vento, marcas de gotas de saliva que caíram quando soprei, além do meu resto de juízo pra organizar tudo em ordem cronológica. 

Aliás, esse envelope eu já tinha utilizado em outra ocasião, mas graças ao aperto do armário, ele ficou novo depois de ser imprensaado entre os livros.

Nos impressos, estão os meus dados pessoais. Lá você terá o que pediu: os absursos 13 dígitos do meu RG, CPF, o meu endereço completo, onde eu me formei, onde eu trabalhei, o  que escrevi e uma foto 3x4 que evidencia o meu estrabismo marcante.

Tudo com data, horário, certificação e os carimbos. Quase um quilo de papel e uma dezena de reais para provar que não minto, não omito, não fedo nem cheiro. No que provo para a pessoa do cartório, e apenas para ela, que eu sou eu porque, na melhor das hipóteses, os papéis serão guardados, na pior, queimados.

Ainda bem que os documentos provam que eu sou uma excelente brasileira, que contribuo para alguma coisa na construção do país. Acho que não conseguiria provar isso pessoalmente. Nesse caso, viva o papel!

Se quiser me conhecer melhor, marcamos um chopp. Como sei que não quer, já que as pessoas, os sentimentos, a nossa história não é relevante, ficamos neste envelope.

Quando receber, não precisa avisar porque peguei o rastreador do SEDEX.

Abraços,
Anna C P Diniz

Um comentário: