sexta-feira, 4 de setembro de 2015

querido apartamento da R. Dr. Cesário Mota,

Tenho tentado não pensar em você desde julho. Tenho buscado todos os motivos para te odiar. Teus tacos soltos, velhos, sem brilho e desalinhados. Os azulejos que caem na madrugada e a massa vagabunda que ressecou demais. As janelas com respingos de tinta. A descarga de parede que volta e meia insiste em dar defeito.

Mas fico repassando tudo isso, apenas para não ter que admitir para mim mesma que vou morrer de saudades. Para esquecer que é você que ocupa, no meu coração, o espaço sob a nomenclatura de "casa". É o teu cheiro de sujo e guardado _que só consigo perceber quando passo dois dias na casa da Lili_ que me é familiar e aconchegante. 

Já me peguei querendo abraçar as tuas paredes. Já me peguei em um impulso destrutivo de querer sair desmontando tudo e encaixotando todas as minhas coisas sem olhar para trás. Mas sempre respiro fundo e aguardo uns instantes. Instantes em que uma voz dentro de mim diz que essa hora invariavelmente vai chegar. Que no fim do mês a nossa história acaba. Mas que é bom esperar e aproveitar cada minuto de conforto que tu ainda podes me dar.

Não se engane com essas palavras bonitas. Odeio todos os teus defeitos e as assimetrias, especialmente os tacos, confesso. Mas amo tudo que aprendemos e vivemos juntos aqui. Amo você ter sido o primeiro lugar em que descobri meu espaço.

Quando receber, me avisa e me ajuda a segurar essa barra que é voltar pro turbilhão de mudanças. Espero que o próximo morador também elogie a sua sala e goste dos novos ganchos que colocamos no seu banheiro.

Com carinho,
Seane.




Um comentário:

  1. Um ótimo apartamento. Nem reparei no piso. rsrs. Também sentirei saudades dele! :)

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