Tenho tentado não pensar em você desde julho. Tenho buscado todos os motivos para te odiar. Teus tacos soltos, velhos, sem brilho e desalinhados. Os azulejos que caem na madrugada e a massa vagabunda que ressecou demais. As janelas com respingos de tinta. A descarga de parede que volta e meia insiste em dar defeito.
Mas fico repassando tudo isso, apenas para não ter que admitir para mim mesma que vou morrer de saudades. Para esquecer que é você que ocupa, no meu coração, o espaço sob a nomenclatura de "casa". É o teu cheiro de sujo e guardado _que só consigo perceber quando passo dois dias na casa da Lili_ que me é familiar e aconchegante.
Já me peguei querendo abraçar as tuas paredes. Já me peguei em um impulso destrutivo de querer sair desmontando tudo e encaixotando todas as minhas coisas sem olhar para trás. Mas sempre respiro fundo e aguardo uns instantes. Instantes em que uma voz dentro de mim diz que essa hora invariavelmente vai chegar. Que no fim do mês a nossa história acaba. Mas que é bom esperar e aproveitar cada minuto de conforto que tu ainda podes me dar.
Não se engane com essas palavras bonitas. Odeio todos os teus defeitos e as assimetrias, especialmente os tacos, confesso. Mas amo tudo que aprendemos e vivemos juntos aqui. Amo você ter sido o primeiro lugar em que descobri meu espaço.
Quando receber, me avisa e me ajuda a segurar essa barra que é voltar pro turbilhão de mudanças. Espero que o próximo morador também elogie a sua sala e goste dos novos ganchos que colocamos no seu banheiro.
Com carinho,
Seane.
Um ótimo apartamento. Nem reparei no piso. rsrs. Também sentirei saudades dele! :)
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